GRE-NAL PORTEÑO
Clássico entre Independiente e Racing divide a cidade de Avellaneda em azul e vermelho
Estación de subte Constituición |
Eu e o meu amigo – baita gremistão – Diego “Bocão” Soares!
Nosso destino era a cidade de Avellaneda, na Grande Buenos Aires. O objetivo, assistir a partida entre Independiente e Racing – depois de Boca Jrs. e River Plate, o clássico de maior rivalidade no futebol argentino.
Mais uma meia hora andando por uma via paralela a Autopista 9 de Julho, passando por alguns “outlets” da Levi´s e Lacoste, cruzamos a ponte sobre o Rio Riachuelo e estávamos em Avellaneda.
Ponte sobre o Rio Riachuelo |
Uma cidade de pouco interesse para os turistas; pelo contrário, como toda localidade periférica às grandes metrópoles, é um lugar mal afamado, perigoso, a ponto de um motorista de táxi loucão, na noite anterior, nos fazer um alerta:
– Cuidense, chicos! Em Avellaneda la hinchada es muy loca, andan armados, se matan! Es peligroso!
Mas Avellaneda me pareceu bastante agradável e familiar. Um lugar de pessoas simples, trabalhadores de classe média. O sol estava radiante, a temperatura agradável – o dia perfeito para uma partida de futebol! Na avenida Mitre, principal artéria comercial da cidade, as sedes sociais do Club Atlético Independiente (1905) e do Racing Club (1903). E os torcedores do Independiente chegavam em centenas, milhares, buzinando, cantando e agitando suas bandeiras.
Após degustar – na correria – um “sandwich de jamón” e duas Quilmes litro num simpático bistrô de esquina, tomamos o rumo do estádio.
Avellaneda – Rumo ao estádio |
Não havia torcedores do Racing pelas ruas, apenas “los hinchas” identificados com “El Rey de Copas” (sete Libertadores entre 1964 e 1984; dois Mundiais em 1973 e 1984), que era o mandante da partida. “Los Rojos” tomavam as calçadas das estreitas vielas que conduzem ao estádio “Libertadores de America”, inaugurado em 1928 e remodelado à partir de 2007 (ainda em obras) .
Algumas barreiras policiais mais adiante e estávamos nas cercanias do caldeirão vermelho.
Barreiras policiais – ao fundo El Cilindro |
Estádio Libertadores de America |
O que mais chamou a atenção era o fato dos estádios dos dois arqui-rivais estarem separados por alguns poucos metros – os clubes eram como vizinhos vivendo uma guerra particular, eterna (fiquei imaginando como seria se o Olímpico e o Beira-Rio existissem lado a lado). Os ingressos, adquiridos com antecedência (AR$ 110), eram para a platéia alta do Independiente – informações davam conta de que não haveria torcida adversária, apenas “Los Diablos” adentrariam seus domínios infernais.
Platea Alta – Sector 3 |
Rapidamente acessamos a arquibancada e nos posicionamos num dos pontos mais altos do estádio. Com os times já entrando em campo , a torcida explodia em festa. Para nossa surpresa, “la hinchada de” Racing lotava a arquibancada superior à nossa direita, separada pelo setor denominado “Garganta del Diablo”.
Times em campo |
Era a lendária “Guardia Imperial” , uma das mais fanáticas e temidas “Barras Bravas” portenhas. Mas a torcida do Independiente tomava cerca de noventa por cento do seu estádio, e estendia uma bandeira gigante em avalanche no setor à nossa esquerda.
La Guardia Imperial de Racing |
Bandeira Independiente |
O juiz deu início à partida e, com a bola rolando, eram raras as jogadas de talento. Muita correria e marcação eram a tônica, os dois times pareciam mais preocupados em não perder do que em efetivamente vencer o jogo .
O jogo. Ao fundo, El Cilindro |
Ao fundo, há menos de quinhentos metros, observávamos “El Cilindro”, o estádio do Racing Club, inaugurado em 1950.
El Cilindro |
El Cilindro – Torre |
El Cilindro – Lateral |
O Racing atacava mais, perdendo oportunidades para abrir o placar. A zaga do Independiente insistia em jogar em linha, e isto indicava que a qualquer momento “La Academia” poderia marcar – e, de fato, foram no mínimo três boas chances para os azuis ainda no primeiro tempo. O juiz deixava o jogo rolar, se omitindo nas faltas mais leves, e a segunda bola era quase sempre do visitante, que parecia estar melhor postado em campo.
Mas o futebol é cruel, impiedoso, surpreendente, é o famoso “quem não faz…, leva” – na primeira chance que teve, o Independiente marcou , aos 45 minutos e meio do primeiro tempo, através de uma cobrança de escanteio no segundo pau, no bico da pequena área, com uma cabeçada certeira que deslocou o goleiro e entrou no cantinho.
Gol do Independiente |
Um mar vermelho de torcedores entoava cânticos, fazia tremular suas bandeiras. E eram dois gremistões enrustidos no meio da massa rubra passando mal…, faltava-me o ar…, um cansaço tomou conta do meu corpo…, tudo que eu desejava naquele momento solene era estar entre os azuis .
Gremistão sofrendo… |
“Los Diablos” (y “Las Diablitas”) estavam em êxtase, comemoravam loucamente o momento mágico de um gol inesperado sobre seu maior inimigo. E um clássico, geralmente, se decide no detalhe, num lance isolado.
Las Diablas de Independiente |
Goela seca, mal dormido, sem dinheiro… no meio dos vermelhos e perdendo o jogo!
Assim sendo, o segundo tempo transcorreu sem surpresas, com o time da casa no comando das ações, se aproveitando dos contra-ataques, conseguindo controlar o então desordenado Racing. E o jogo ia chegando ao fim como havia iniciado: morno, arrastado e sem o brilho de um verdadeiro clássico. Parecia um daqueles Gre-nais menores, de Gauchão, clássicos que não decidiam nada, de futebol medíocre e sem ambição.
À nossa direita, “La Guardia Imperial” do Racing seguia apoiando, cantando, acreditando… foi quando o juiz apitou!
Final de partida |
O jogo havia chegado ao seu final , vencia o Independiente, 1 X 0, gol de Báez, aumentando para 22 partidas a vantagem do time da casa ante seu odiado vizinho, que não o vence há onze partidas (“apenas” cinco anos).
Festa Independiente |
Ficamos mais uns quarenta minutos presos no estádio , esperando a torcida adversária evacuar, até que pudéssemos deixar Avellaneda , de ônibus, com total segurança e tranqüilidade. Era hora de partir! As garotas aguardavam em Belgrano, era a nossa última noite na capital argentina, íamos comemorar o aniversário da amiga e anfitriã Marília Cavalheiro (irmã do Marco) antes de embarcar para Porto Alegre, no vôo da sete, de virada. Mas essa é outra história…
Esperando saída da torcida adversária |
Saída |
No “Gre-nal Porteño” não houve sangue ou lágrimas! Nem brigas, tiros, provocações… apenas um ou dois cartões amarelos para os mais exaltados. Assistimos a um jogo burocrático, previsível, disputado por dois times limitados e com pouca inspiração. Entretanto, sobrou suor, pegada, entrega, dedicação, que são a marca do futebol argentino! Y la passion, que no se puede cambiar…!
Eu mal podia esperar por um Gre-nal de verdade – e, desta vez, eu iria estar na torcida azul, do meu tricolor, na minha casa, o glorioso Olímpico Monumental, e definitivamente não haveria chance dos vermelhos triunfarem!
Cristiano Zanella
jornalista – especial para o blog “Buenos Aires Dreams”
http://www.cristianozanella.blogspot.com/
Grande Zanella! Que texto! Obrigado por presentear nossos leitores com este maravilhoso relato!!! E agora, Gre-Nal!!!
.
belo texto mesmo! acompanhar um clássico é sempre algo valioso. esse é de fato um dos maiores clássicos argentinos. tenho muita vontade de assistir um ao vivo… e tb, pq não, os "menores", como All Boys x Arg Juniors, Chacarita X Atlanta, etc…
saudações rubronegras!
Baita relato da nossa incursão ao campo adversário. Da próxima vez proponho não visitarmos mais BsAs e irmos só pra Avellaneda!!
grande presença zanella, demais!!! aguante raaaaacing e dale grêmiooooooo!!!
Show de bola, né Marilia!? Muito bom!!
Dale Diego!! Muito legal a aventura de vocês!!! Avellaneda rocks!!! Grande abraço!
Grande Jair! Como disse certa vez o poeta, clássico é clássico e vice-versa! hehehe! muito bom o texto, né? Dá muita vontade de ir!! Abraço!
hahahaha! boa diego, eu e as meninas somos parceiras de ir pra avellaneda na proxima…. mas no dia certo neam, que a corneta continua!!!! hahahahaha!
Oi Marco, vi sua dica de tango no torquato tasso no post do ricardo sobre o Rojo tango. Adorei a dica pois estava procurando algo menos turístico. Vi que o Rojo é totalmente turístico e caríssimo! Se vc souber de alguma apresentação do Rodolfo mederos entre 9 e 16 de dezembro faz um comentário. Obrigada. Alexandra.
Oi Alexandra! Vou ficar atento às datas do Rodolfo Mederos e te aviso! Abraço!!
Meu Deus, Marco!
No que demorei um pouquinho a voltar, chego aqui, e levo um baita susto!
Seu rítmo de postagens é avassaladoramente produtivo! Rsrsrs 🙂
Nunca sei se devo ir de trás pra frente, ou vice versa. Tento ser racional, ou organizada, para ler os posts, mas não dá. Faço uma varredura, para ter uma panorâmica do que você escreveu, mas aí fico enlouquecida com os temas, e dá um nó no pensamento, que entra em curto…hahaha
Então, hoje resolvi começar por esse relato apaixonado e arrebatador!
Uma verdadeira crônica esportiva, que deu bem a dimensão do que é o futebol para os argentinos. Sensacional! o texto, as fotos, e a emoção do Zanella!
Desculpe a expressão, mas foi um "puta" relato descritivo e jornalístico, do que é uma partida de futebol, entre dois times rivais!
Espetacular! Engraçado, que durante a leitura, eu ia lembrando daquela música do Skank, e praticamente "sentindo" o calor da torcida no estádio…
Muito bom! Parabéns a você, por tê-lo convidado, e ao próprio pela beleza de cobertura, ops, de matéria.
Grande abraço.
Voltei, só pra elogiar a foto, da Ponte sobre o Rio Riachuelo!
Uma pintura! Lindo.
Adorei!
Oi Ligia!! Sempre uma alegria imensa te ver por aqui! O texto do Zanella ficou ótimo, né? O cara é muito talentoso! Conseguiu criar uma descrição muito detalhada da experiência!! Adorei! E teremos mais participações dele por aqui!! Grande abraço!
A foto ficou linda! Eu adoro reflexos, essa foto ficou show! Abração!