Vou propor um pequeno exercício de dedução. Se você chegou até este blog é porque gosta de viajar. E se gosta de viajar, provavelmente gosta de fotografar algum momento de suas viagens. Vou propor agora outra clarividência: Você fotografa o lugar, mas raramente se pergunta ” Por que estou fotografando este lugar?”, e mais raramente ainda, “Qual a função simbólica desta imagem, quais camadas e leituras possíveis esta foto pode gerar?” Provavelmente não te surpreendi com meus poderes de dedução, mas talvez você esteja um pouco surpreso com a minha pergunta sobre o ato fotográfico, tão comum e mecânico nas viagens e passeios. O ato fotográfico, este momento único quando podemos congelar uma fração de segundo de uma cena dinâmica e complexa em uma imagem estática (mas não necessariamente imóvel) de uma realidade ultra subjetiva recortada com enquadramentos e ângulos e pontos de vista reveladores da forma como vemos ( e principalmente de como gostaríamos que os outros vejam, pois a fotografia é essencialmente persuasiva) o mundo ao nosso redor. Não importa se você está tirando um retrato de um amigo na frente de um ponto turístico, de uma paisagem arrebatadora ou de uma formiga, a sua fotografia será um documento permanente da sua forma de ver o mundo.
Por que fotografamos uma viagem? Uma pergunta aparentemente simples, mas de uma complexidade incrível. O turismo, a viagem e a fotografia tem um relacionamento muito antigo. Os pioneiros da fotografia de viagens eram uma mistura de aventureiros, artistas e cientistas, pois precisavam levar consigo não apenas as pesadas câmeras, extremamente delicadas e difíceis de operar, mas também tendas e materiais químicos que formariam o laboratório portátil necessário. Hoje o moderno viajante leva consigo uma câmera minúscula com capacidade para milhares de fotos e fácil de usar. Mas se o equipamento mudou consideravelmente, o objetivo final continua muito parecido. Registrar visualmente e simbólicamente experiências em terras (hoje nem tão) distantes, se apropriar simbólicamente de um lugar. Os primeiros fotógrafos de terras distantes faziam com que estes lugares, através da fotografia, se tornassem visíveis ( e talvez assim, reais) para novos públicos iniciantes na observação de fotografias. Hoje, os viajantes modernos clicam exaustivamente os pontos de interesse não para mostrá-los apenas, mas para simbólicamente dominá-los, criando assim o equivocado sentimento de “conhecer” um lugar. Ora, ele tem uma foto na frente da torre Eiffel, portanto é lógico que “conhece” Paris.
Com o advento das câmeras portáteis, cria-se a fotografia instantânea, o snapshot. O primeiro slogan da Kodak é muito esclarecedor: ” You press the button, we do the rest” Você aperta o botão, nós fazemos o resto. Esta facilidade foi o inicio da complexidade da fotografia, pois agora o meio fica acessível não somente à elite artistica e científica, mas ao cidadão comum. Surge assim a fotografia do dia a dia, das viagens de família, o “momento Kodak”, os aniversários, a visita da tia do interior… Nesta revolução imagética trocamos aos poucos a comunicação escrita pela comunicação visual, e hoje todos tiram fotos. Mas esta banalização do ato fotográfico, ao mesmo tempo essencial para a evolução da fotografia, trouxe um grande problema para o fotógrafo. Se todos fotografam o mesmo lugar, como criar uma imagem memorável deste lugar? Ou não nos importamos com isso, ou criamos o nosso olhar sobre as coisas. Eu posso até fotografar Paris um dia, mas nunca a Paris de Brassai ou Henri Cartier Bresson. E este é justamente o aspecto que me fascina na fotografia! O diálogo que ela proporciona! A fotografia deveria ser o diálogo entre o meu ponto de vista,comparado com o seu , para criar a nossa visão sobre um lugar!
Apesar da banalização do uso da fotografia, do acesso ao equipamento e da facilidade de uso, nossa relação com a foto continua bastante forte. Podemos até considerar ingênuo o medo de algumas tribos indígenas de que a fotografia roubaria suas almas, mas relutamos em rasgar a foto de um filho. E quando terminamos uma relação acreditamos que rasgar as fotos do parceiro automaticamente apaga as memórias indesejáveis. A fotografia faz parte das nossas vidas, entretanto raramente pensamos nela de forma séria. E se o mundo moderno é uma grande narrativa visual, e a gente não se preocupa em ter esta “alfabetização” visual, como saberemos quando uma foto ou imagem está tentando nos enganar, mudar nossa opinião sobre algo ou vender um produto? E a sua relação pessoal com a fotografia? Você automatizou o seu ato fotográfico, apenas apertando o botão e deixando que os outros façam o resto, ou se pergunta porque e como está fotografando? Você ficou refém da tecnologia (quanto mais megapixels melhor a foto…) ou usa a tecnologia como ferramenta criativa? Agora que eu convenci você a imaginar e ver a fotografia de outra forma, a pergunta no ar é ” como criar, e não apenas tirar, uma foto?”
O primeiro passo é consumir fotografia! Ver fotos! O máximo possível! Não consigo passar um dia sem ver fotografias, desde os grandes mestres até desconhecidos no Flickr. Ver arte, conhecer os clássicos e os não clássicos da pintura, ver como a luz era utilizada para dar vida aos quadros… Enfim, ver o máximo possível!
Ler fotografia! Ler os clássicos da área, como Camera Lucida, do Roland Barthes, ou Sobre Fotografia, da Susan Sontang. Ler artigos e análises, entrevistas e ensaios. Estudar a história da fotografia, seus diversos usos, seus personagens! Concordar e discordar o máximo possível! Descobrir o seu gosto pessoal, descobrir que tipo de foto te tira ou te dá sono, não ter medo de não gostar das fotos de um grande mestre e preferir as fotos que o seu sobrinho de 8 anos fez. Leia muito. E começar com o excelente blog do meu irmão é a minha dica!
O segundo passo é conhecer melhor a sua câmera e como obter o maior controle criativo sobre ela. Resista aos apelos dos modos automáticos e explore as possibilidades do modo manual, com controle de diafragma e obturador. Invista em um bom livro sobre técnica fotográfica e vasculhe a internet atrás de dicas e técnicas!
E agora que você está pronto para aprimorar seus conhecimentos técnicos e teóricos, pratique!!! Tire proveito da possibilidade de tirar infinitas fotos sem custo e explore todas as possibilidades do seu equipamento! Mude os ângulos, enquadramentos, ponto de vista. Mas o mais importante… Divirta-se!!!!!!!
A web está repleta de sites interessantes sobre fotografia e arte. Alguns exemplos aleatórios.
http://www.metmuseum.org/toah/
Dicas Kodak
http://www.confoto.art.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotografia
http://fotografeumaideia.com.br/site/index.php
http://www.dicasdefotografia.com.br/
http://www.fotografia-dg.com/fotografia-digital-questoes-basicas/
Vasculhe o Google! Youtube! Podcasts! Deixe suas dicas de sites nos comentários!!
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Sempre lembrava do Blog quando fotografava em Bs As. "será que vão ter o mesmo efeito daquelas do Marco" kkkkkkkkkkkkkkk nem de longe! Muito bom o texto e obrigado pelas dicas. Adoro fotografar!
Abraços!
Oi Cadu! A fotografia é fascinante!! Ah, manda por email (buenosairesdreams@terra.com.br) aquele relato da tua viagem! Gostaria de fazer um post com ele, se você não se importar! Abraço!